Violência na escola: que tal experimentar a comunicação conciliadora?

O método da não violência pode parecer demorado, muito demorado, 

mas eu estou convencido de que é o mais rápido.

Mahatma Gandhi

Mário Jorge Oliveira Silva

Tem sido recorrente nos meios de comunicação a veiculação de notícias decorrentes de fatos que tem como tônica a violência no interior das nossas escolas. A maioria das vezes, envolvendo algum tipo de desentendimento entre alunos e professores ou entre alunos e alunos; inclusive, em alguns casos, chegando às últimas consequências, vitimando fatalmente um dos envolvidos no conflito. 

Seria prudente investigar as relações que se dão no interior dessas instituições de ensino, pois o que se observa em todo ato de violência é como se reage a este. Explico melhor. Todas as vezes que sofremos algum tipo de ameaça, seja ela física ou psicológica, tendemos a reagir com igual ou maior intensidade. Esse tipo de comportamento tem a sua origem na região mais rudimentar do nosso cérebro, o sistema repteliano (MACLEAN, 1990), que tem, entre outras características, o instinto pela sobrevivência, cujos mecanismos de atacar ou fugir se fazem evidentes em situações de estresse. 

Porém, como o próprio nome sugere o sistema repteliano, embora presente no cérebro dos seres humanos, é característico dos répteis, que não possuem qualquer tipo de comportamento afetivo, sendo incapazes de se adaptarem psicologicamente aos ambientes emocionais ou mesmo de aprenderem. 

Para Maclean (1990), diferentemente dos répteis nós, seres humanos temos um sistema mais evoluído, composto ainda dos sistemas límbico (responsável pelos sentidos e pelos sentimentos) e neocórtex (centro das atividades humanas superiores, como: pensamento abstrato, imaginação e linguagem). Essa condição nos permite pensarmos e refletirmos a respeito das coisas que acontecem conosco, no nosso dia a dia antes de tomarmos qualquer medida e reagirmos aos fatos. 

Quando somos agredidos tendemos a construir uma armadura, afiarmos as nossas garras e partimos para o ataque. Essa é uma reação mais que natural e infelizmente são não são muitos os que conseguem agir diferentemente. Contudo, as diversas formas de agressão que sofremos em geral querem nos comunicar algum tipo de necessidade de quem nos agride e que não está sendo satisfeita ou atendida. Às vezes, pelo fato de estarmos o tempo todo tomando as nossas decisões com base em julgamentos antecipados, não nos abrimos à comunicação, o que dificulta a compreensão da mensagem. 

A nossa capacidade de observação (com todos os nossos sentidos, inclusive com o sexto, a intuição), uma vez aguçada através de uma postura flexível e amorosa, nos permitirá agir de forma receptiva às mensagens, mesmo as subjacentes, nos proporcionando compreender o que tal gesto ou atitude nos quer revelar, e melhor ainda, qual é a natureza do pedido que nos está sendo feito. 

De tal forma, acredito que um dos principais motivos de tanta agressividade reside na falta de uma comunicação adequada, aquela que aproxime, que envolva, que se mostre interessada pelo problema do outro. Nesse sentido, é importante ainda frisar que tal forma de se comunicar deve também levar em conta a nossa observação interior, os nossos sentimentos, as nossas necessidades e o que de fato nós queremos para nós mesmos (ROSENBERG, 2006). 

Existem boas possibilidades de que após uma análise mais detida de como se dá a comunicação dentro da escola tenhamos uma melhor compreensão das demandas individuais e coletivas, o que nos permitirá agir de forma conciliadora, aglutinadora e produtiva. Acredito que devemos fazer o seguinte questionamento: O que isso vai nos (a mim e ao outro) trazer de bom? 

Quando existir qualquer situação de conflito na sua escola, pondere sobre essas coisas.

MACLEAN, Pool. D. The triune brain in evolution: role in paleocerebral functions. Nueva York: Plenum Press, 1990. 

ROSENBERG, Marshall B. Comunicação não-violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. São Paulo: Ágora, 2006.