A motivação duradoura vem de dentro

"A melhor maneira de melhorar o padrão de vida está em melhorar o padrão de pensamento".
U. S. Andersen  

 Uma das tarefas mais difíceis do gestor escolar é motivar o seu pessoal, principalmente pelo fato de pensarmos que o que nos faz levantar cedo e ir para a escola trabalhar é o que e o quanto iremos ganhar em troca. De certa forma, trabalhamos para suprir as nossas necessidades básicas, e por isso nada mais justo do que receber um salário digno. Também trabalhamos em busca de reconhecimento através do elogio, do tipo “você fez um bom trabalho”. 

Essas recompensas caem muito bem, mas à medida que elas “estabilizam”, ou seja, deixamos de ter aumentos ou não recebemos qualquer tipo de louvor perdemos a motivação e o nosso desempenho vai lá para baixo. Isso ocorre por que as premiações externas de tarefas condicionam quem as executas. Os experimentos de skinner, com ratos e depois testada com humanos, comprovam essa tese ao definir o comportamento operante, constituído por associações estímulo-reforço (positivo ou negativo) às respostas de um sujeito. 

Na própria prática educativa, por ocasião das avaliações escolares, damos preferência ao desempenho dos alunos em detrimento da aprendizagem, onde o esforço do aluno poucas vezes é recompensado e a nota alta é o prêmio. Daniel Pink, em Motivação 3.0, citando Carol S. Dweck, nos fala sobre a relevância da busca constante da aprendizagem. Assim ele escreve: “com uma meta de aprendizagem, os alunos não têm de sentir que já são bons em alguma coisa para insistir e continuar tentando. Acima de tudo, sua meta é aprender, e não provar que são sabidos”. 

A motivação que vem de fora (extrínseca), embora necessária em algumas circunstâncias, em geral traz graves prejuízos para a pessoa e para a coletividade, pois ela inibe a criatividade e bloqueia a iniciativa: “Eu podia fazer assim?” ou “Eu só faço aquilo que me mandam”. Esse tipo de motivação funciona como uma espécie de cenoura que se coloca na frente do cavalo pendurada por um cordão, amarrada numa vara. Essa motivação está também representada pela figura do chicote. Na verdade, não existe liberdade para fazer o que é necessário. As pessoas fazem por que outras querem que elas façam, e sendo assim, não existe qualquer tipo de compromisso genuíno com a missão da escola. 

Para nos ajudar na tarefa de sincronizarmos a missão da nossa escola com os interesses dos nossos parceiros de jornada (equipe escolar), Pink aponta três condicionantes: Autonomia, Excelência e Propósito. Em outros momentos já tivemos a oportunidade de falarmos sobre excelência (em nosso último “encontro”, lembra?) e sobre propósito, já alguns meses, quando fizemos uma abordagem sobre a missão da escola. Quanto à autonomia, ela nos remete a auto direção, que é a capacidade de guiarmos os nossos próprios desígnios. Segundo Daniel Pink “[o] sentimento de autonomia exerce um efeito poderoso sobre o desempenho e a atitude individuais. De acordo com uma série de estudos comportamentais recentes, a motivação autônoma promove maior compreensão conceitual, melhores notas e maior persistência na escola e nas atividades esportivas, produtividade mais alta, menos esgotamento e níveis mais elevados de bem estar psicológico”. 

Acredito que essa tríade deve povoar as mentes e as atitudes de todos que compõem a equipe escolar. São palavras que fazem parte do nosso discurso quotidiano. Estamos muito acostumados a pronunciá-las e também a colocá-las em nossos planos de curso. Que tal a partir de agora começarmos a colocá-las em prática? Penso que todos que estão na escola desfrutariam de um clima muito mais alegre, mais dinâmico, mais envolvente e certamente os nossos resultados não somente seriam medidos pelas notas e pelo número de alunos aprovados, mas seriam medidos também pela satisfação dos nossos alunos em se perceberem aprendizes obstinados e que a partir das suas experiências de aprendizagem fossem capazes de construir sua própria história.